quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Versão Alan Zas (Razallfaya)

Bater devagar e doer...

As vezes é preciso bater um pouco mais devagar, pra não doer tanto, mas “se tem que bater, então que assim seja”!!!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Belmira, Gás, Choque, Zé Roelas e uma planta no asfalto


Dia 28 de maio, Grajaú, 6h da manhã...Avenida Belmira Marin... Já fazia uma semana que estava circulando nas comunidades e bairros do entorno, que um grupo de moradores da região, organizados a partir de uma articulação da qual eu ainda não tenho muita noção de quem era, iriam fazer uma manifestação na citada Avenida.

O motivo? A Avenida Belmira Marin é a única via de mais de 30 bairros, onde moram no mínimo 600 mil pessoas, e vive completamente congestionada, independente de horário...

Nos últimos meses as coisas vêm ficando cada vez mais calamitosas... A maioria dos trabalhadores, estudantes, moradores de um modo geral, acabam tendo que descer dos transportes públicos e ir a pé pra suas casas, ou encontrar caminhos alternativos com seus transportes privados, pra poderem chegar.

Um percurso que é possível fazer em dez minutos, se o trânsito estiver livre, chega há demorar duas horas... Independente de hora ou dia, a Belmira virou um estopim de pessoas e transportes tentando encontrar brechas num espaço em que é impossível de circular, gerando engarrafamentos cujas imagens, de gente abandonando os ônibus, que ficam vazios e parados por horas na Avenida, e os motoristas de carro, tentando costurar, avançando por sobre os faróis que se fecham e abrem, sem que nenhum veículo ande mais de 2 metros em menos de 10 minutos...

A expressão cansada nas pessoas, que vêm aturando essa situação há tempos é uma mistura de revolta, conformismo, raiva, submissão, indignação e apatia, diante de algo que muitos sabem quem deveria ser acionado, ou que se deveria fazer algo...

E algo Iniciou nessa quinta de maio...

Um grupo de moradores, alguns tradicionais líderes comunitários, gente que já participou de lutas na região no passado, outros, ligados às comunidades por outras vias mais institucionais, como assessores de políticos de uma “suposta oposição” e mais alguns, moradores, usuários dos transportes, gente que acreditou que aquela ação seria uma forma de tentar mudar o quadro de desalento que vivem...

O que fizeram? Ainda não sei definir o que foi... Então, vou descrever o que vi...E cada um interpreta como quiser...

Cheguei ao local divulgado no panfleto (que não era assinado por ninguém) às 6h30... As pessoas já estavam concentradas ali, e embora não fossem muitas, já demonstravam grande empolgação na ação que estaria prestes a acontecer. Havia também uma grande concentração de policiais, munidos de transportes, armas e aquele aparato todo, de que não vieram pra “proteger e servir”...

Embora não tenha identificado exatamente quem estava na liderança, ou como estava organizada e pensada a ação, percebi a presença, como já citei antes, de alguns líderes comunitários tradicionais, que pareciam negociar com os policiais, como seria conduzida a “tomada” da Avenida (que indicava a idéia de fazer uma passeata...)

Sem que ficasse muito claro ou definido, ao menos pra mim, o que estaria fechado, ou quais as estratégias de ação e resistência o grupo iria tomar, começamos andar e a tomar uma das vias (a sentido bairro-centro) da Belmira...

Em menos de 10 metros de caminhada, a polícia interviu... Jogando suas viaturas pra cima das pessoas, e fazendo o grupo dispersar com gás de pimenta e lacrimogêneo. Vieram por trás, arremessando os projéteis que liberavam o gás, de modo que muitos não conseguiram nem ver o que estava acontecendo, começando um corre-corre onde, felizmente, ninguém chegou a se machucar, apesar dos efeitos dos gases (falta de ar, o rosto queimando, os olhos lacrimejando, um tipo de cegueira temporária)...

O grupo tentou se reunir pra decidir o que faria a partir de então. Alguns mais empolgados sugeriam a retomada da Avenida, outros, propunham reunir as pessoas pra conversar, enquanto uns também sugeriam que se caminhasse até o ponto marcado pra ser o desfecho do ato (Terminal Gragaú), e lá reunissem pra conversar (cheguei a ouvir que esperavam que tivesse alguém das autoridades lá pra ouvir a reivindicação que se fazia)... Sem muita consulta, ou clareza de como as coisas se dariam, continuamos a caminhada pela calçada da Belmira, escoltados, empurrados, intimidados pela polícia, que colocava seus carros entre o grupo e a Avenida, pra “garantir que não houvesse transtorno no trânsito”...

Apesar da pressão e repressão, continuamos pela calçada, caminhando, com alguns cantando e gritando palavras de luta, resistência, orgulho e etc... Panfletos iam sendo distribuídos, e a população local, embora demonstrasse simpatia pelo movimento, não se juntava ao próprio.

Entre o grupo, haviam diferentes ânimos e discursos, e em alguns momentos, algumas discussões entre os “supostos líderes”, no que dizia respeito às atitudes que dever-se-ia ter em relação aos policiais, a caminhada,etc.

Aos chegarmos ao ponto marcado (Terminal Grajaú), eis mais uma surpresa: A Tropa de Choque esperava-nos com seu aparato...

Cheguei a ouvir de algumas pessoas, que a idéia era entrar no Terminal Grajaú, mas o grupo ao se deparar com a Tropa de Choque viu logo que a idéia não seria realizável... Ficou uma discussão do que se faria dali em diante, uma dispersão no grupo, que não tinha muita noção do que fazer, e a pressão da polícia, que se mostrava cada vez mais truculenta, embora os manifestantes não apresentassem nenhuma postura de enfrentamento...

Como se não bastasse todo o aparato, e o fato de a manifestação ter sido tratada como coisa de “gente errada” (ao menos por parte do representante do Estado presente), um dos membros da corporação policial resolveu que queria ter uma “conversa” mais pessoal com um dos manifestantes, já que, segundo “o polícia”, o rapaz havia o ofendido, desacatando sua autoridade (eles adoram usar isso de pretexto)... O rapaz, que se viu acuado, tentou correr para evitar uma agressão (que parecia encaminhar-se), mas “os polícia” logo formaram o cerco, encurralando o rapaz dentro de uma escola próxima... Impedidos de entrar os outros manifestantes, ficaram de fora, tentando furar o bloqueio da Polícia, afim de impedir que o rapaz fosse agredido, e a resposta foi aquela típica cena repressora da tropa de choque batendo seus cassetetes nos escudos e dando mostras claras de que pretendia “dar um jeito” naquela gente.

Creio que, muito por conta da presença da Imprensa (que estranhamente estava lá, o que não é comum), e da própria fala de alguns envolvidos no ato (gente ligada à política), o resultado final não foi de maiores efeitos colaterais físicos... E todos conseguiram voltar pras suas casas...

Do ponto de vista psicológico, ficou aquela sensação de medo, de sentimento de repressão... Alguns senhores citavam situações parecidas vividas em greves na década de 70, os anos de chumbo...

No geral, levo comigo duas impressões do ato em si:
A primeira é de que nossa população continua acomodada, deixando suas vidas nas mãos de poucos... Alguns realmente lutadores, interessados em mudanças, outros aproveitadores, interessados no próprio status que podem conseguir, assumindo a posição de suposta liderança... E no geral, esses ativistas ainda não conseguem organizar qual é o caminho de atuação, a quem recorrer, como recorrer, e quais são os resultados que se pretende com certas ações... Muitos desses ainda estão presos a antigos sistemas de pensar a forma de fazer política, presos a vícios de um tempo que já passou, e que pouco funciona hj...(Sem falar naqueles que só querem manipular a situação a favor de sua tendência partidária)...

Do outro lado, fiquei com a clareza cada vez maior de que o Estado, representado pela Polícia (já que foi a única autoridade presente durante a manifestação) continua tratando e vendo a população como criminosa, dando a mesma o único tratamento que sabem dar, quando não conseguem dialogar... Repressão, violência, gás de pimenta, bomba de gás lacrimogêneo, jogar o carro sobre as pessoas, fazer pressão com seus alaridos de cassetetes e escudos... muitos deles, babando a nóia de que tudo que querem é “Cumprir seu dever” ( e pela expressão de alguns, às 6h da manhã, nóia é a palavra mais adequada).

Diante desse quadro, que não é bonito, nem muito esperançoso, ainda fico feliz por saber que tem alguma coisa acontecendo... Durante uma semana, foi só no que se falava na comunidade... O clima era de despertar, como se algo estivesse brotando... E embora dessa vez, o fruto tenha sido germinado em solo árido, tenho a impressão de que algo está acontecendo devagar em nossa comunidade... Claro que tem muito “Zé Roela” só falando e nada fazendo, claro que tem muita gente concordando com a postura criminalizante do Estado, claro que ainda tem muita gente que não quer ver... Mas algumas flores começam a brotar... Vamos ver quais serão os frutos!!!

sábado, 5 de junho de 2010

Grande e Pequeno sou eu...


Mestre Pastinha disse: “Na roda de Capoeira, grande e pequeno sou eu...”

Quando paro pra pensar na infinitude do tamanho do universo ou na pequenez das vidas de insetos ou micro-organismos, tenho a sensação de que o mestre estava se referindo a algo que quero tratar aqui, ao menos parcialmente (já que o pensamento do mestre é bem mais aprofundado...).

Quem somos nós, individualmente, na roda da vida¿ Quem somos diante do tempo e do espaço das coisas grandiosas e pequeninas desse “Mundão Véio de Deus”???

Um terremoto pode ceifar milhares de vidas em minutos, e nada mais é do que um toque sutil de duas placas tectônicas, fruto de um movimento interno da massa solar sobre a qual nos encontramos...

Uma pessoa pode numa simples pisada displicente acabar com centenas de vidas de formigas ao colocar o pé num formigueiro, ou eliminar toda uma espécie, derrubando partes de uma mata, alterando características naturais de certa região.

Grande e pequeno é o ser humano...

E diante desse tamanho, dessa condição à qual cada um de nós se encontra, individual e/ou coletivamente, fico vendo que tem gente que se acha maior ou menor do que realmente é, ou usa essa coisa do tamanho como pretexto pra não ser o que diz ser e/ou acreditar.

Todos temos ações diárias que podem fazer diferença (ou não) diante da nossa condição e tamanho no mundo... Coisas que pra alguns parece bobeira como “não jogar papel no chão”, ou coisas mais radicais como “boicotar o uso de certos produtos de certas empresas”...

São ações que podem servir de exemplo pra alguém que queira dizer: “estou fazendo minha parte!!!”

O argumento, que parece conclusivo, é ingênuo e deixa um enorme buraco (ou lacuna) diante do ponto no qual estou tratando aqui: “O que significa fazer sua parte? no que isso muda ou interfere diante da magnitude e-ou pequenez já citadas anteriormente?

Serve ao Ego, pra que se possa sentir responsável diante de outros que parecem não ver o que está ai? E esse Ego cheio por essas atitudes, muda o quê?

Serve como modo de auto-promoção, trazendo para si a atenção dos demais por esse diferencial, gerando uma imagem de “boa pessoa”?

De que maneira essas ações individuais, ou mesmo as coletivas, interferem no mundo, na vida, na caminhada natural das mudanças no tempo???

Aos que têm mania de grandeza, e acham que só as ações que transformam todo o planeta, ou pelo menos uma grande parte dele, é que são válidas, pode-se dizer que essas são realmente pequenas e inválidas, e que não mudam nada...

Aos que tem mania de pequenez, e acham que essas ações cotidianas transformam tudo, e que basta irmos de cabeça firmes e fortes que logo teremos os resultados daquilo que desejamos, se desesperam e entristecem por ver que apesar de tantos esforços, pouco muda rapidamente, e que “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”(Belchior)...

No fim das contas, “grande e pequeno sou eu” ... Porque sou fruto e raiz, ao mesmo tempo... Porque não sou a mudança que quero no mundo (como sugere Gandhi), mas também não compactuo com as mazelas que vejo e não desejo pro mundo...

Creio que nesse embate sobre a grandeza e a pequenez reside uma coisa chamada Contradição... E embora seja difícil e estejamos em volto há uma série de questões para com a qual temos que nos posicionar, é praticamente impossível não viver o conflito produtivo da Contradição.

Chamo de conflito produtivo, pois quando se deixa de temer a contradição fica mais fácil de perceber nosso lugar no tempo e no espaço, nosso tamanho fica mais real, nem tão grande, nem tão pequeno.

Reconhecer a contradição, de saber que a ação não traz resultados imediatos nem pessoalmente (o que descarta o egocentrismo citado anteriormente), nem socialmente, mas que ainda assim virão outros desdobramentos é a forma de não cair na armadilha do desânimo, da apatia, do comodismo...

A crença de que não adianta fazer nada, ou que tudo que se faz é pequeno diante da imensidão do mundo, serve apenas pra justificar o alienação na qual muitos já se vestiram, e é apenas uma justificativa pra si mesmo, e para os outros, da sua anulação diante das possibilidades que estão ai, no tamanho real de cada um!!!

Ninguém tem o poder de transformar tudo que se quer, mas ao ser parte daquilo, já estamos tomando uma posição... Basta saber se diante da maré, vai-se querer ir conforme a onda, ou tomar o prumo e remar... O vento muda, a maré muda...Nós mudamos....

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A Gaiola do Vistoso

Essa é a letra de uma ladainha que fiz há pouco tempo (tipo de canto, momento, concentração, prece, que existe na Roda de Capoeira Angola)... A mensagem está explícita:

....

Foi num dia lá na mata

Um tucano e um bem-te-vi

Se falavam sobre a vida

E a beleza por ali

O Tucano orgulhoso

Disse logo: Sou mais belo

Tenho o bico pomposo

Verde, preto e amarelo

Bem-te-vi ficou ouvindo

E tentou até piar

Mas o tucano tava surdo

Da vantagem à contar

Não ouviu o caçador

Que chegava pra caçar

Tucano hoje ta preso

Perdeu sua liberdade

A gaiola do vistoso

Foi a sua vaidade, camará...

PS: A imagem do Tucano preso foi feita por mim mesmo, no Sítio Rincão...No dia, tentei descobrir o que dava direito (se é que isso pode ser chamado assim...) de ter alguns animais em risco de extinção na situação de cativeiro... Cheguei a encaminhar um tipo de denúncia, através de um contato que tenho... Mas...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Com a minha inteligência não se brinca...


Recentemente recebi e vi circular um vídeo desses, com narração e montagem de fotos, que as pessoas fazem com textos diversos, mensagens de amor, auto-ajuda, poesia, até a transmissão de certas doutrinas ou “verdades”. Enfim... Acredito mesmo que a internet, como qualquer meio de comunicação é aberto e deve ter todo o tipo de produção que as pessoas quiserem e puderem fazer, mas me preocupa como essa possibilidade de “comunicar” também apresenta certos perigos...

Num mundo onde as pessoas competem, como se fosse um jogo, buscando supostos melhores lugares, status, condições, materiais, fama, etc, torna-se cada vez mais comum, especializações em certas áreas, afim de ensinar aos demais como ganhar...Muito mais do que jogar, as pessoas querem vencer... Aquela máxima esportista de que o importante é competir, está muito longe de ser verdadeira nesse jogo da vida moderna... “Todos querem vencer, não importa o custo, não importa a forma... Se tiver que passar por cima do outro, dos valores do outro, da dignidade do outro...O importante é chegar lá”!!!!

E as regras de como “chegar lá” vão sendo construídas muitas vezes de um modo maquiavélico (no sentido epistemológico mesmo, da palavra...rsrsrs...Acho engraçado usar isso...). Manipular, omitir, generalizar, induzir... A inteligência, a razão, o bom senso, vão sendo usurpadas por essas estratégias, dando espaço pra vários preconceitos e extremismos.

Nesse caso especifico, o vídeo que recebi chama-se “Com Deus não se brinca”...

Não vou postá-lo aqui, mas qualquer um que estiver lendo o blog pode acessá-lo no You Tube...

A coisa começa com o narrador dizendo o nome do vídeo e em seguida citando seu próprio nome, pra que todos saibam que é ele quem está narrando (rsrsrsrs...); na sequência, ele cita um versículo da Bíblia sobre “não zombar de Deus e tal”... Bem, ai começam as “explicações”:

Fala que John Lennon levou um tiro de um fã depois de dizer que os Beatles eram mais famosos que Jesus Cristo, que Tancredo morreu antes de tomar posse após dize que nem Deus poderia lhe impedir de fazer isso, que Cazuza tragou um cigarro de maconha e ofereceu pra Deus e, enfim... O vídeo vai citando mais alguns famosos e um caso específico que teria acontecido em Campinas... Depois dos “ocorridos”, o narrador cita um trecho de um texto sobre a “autoridade de Jesus”, provavelmente de sua própria autoria, e faz um PS, sugerindo que as pessoas devem ter coragem de reenviar o vídeo...

“Bão”... (como diriam uns matutos, antes de começar a expressar seu pensamento):

... Começo fazendo uma pergunta: “Qual o objetivo desse vídeo¿ Que as pessoas tenham medo de Deus¿ Que as pessoas citadas foram castigadas pelo que fizeram¿ Que nossas vidas estão diretamente salvas ou condenadas pela forma como usamos o nome divino¿”

Bem... O que pretendo aqui é fazer algumas observações relevantes, pois se o autor do vídeo acredita que não se deve brincar com o “nome divino”, acredito que ele também não deveria brincar com nossa inteligência...

1 – John Lennon fez a afirmação sobre a popularidade dos Beatles em 1966, o tiro levado pelo cantor, e citado no vídeo, foi em 1980... Essa distância no tempo já demonstra que alguma coisa não se encaixa tanto assim na colocação do senhor narrador. Além disso, a afirmação feita pelo Beatle não é uma mentira, já que no mundo todo a banda fez sucesso, e nem todos os cantos do mundo são cristãos, ou seguem o Cristianismo (vale ressaltar que existem religiões tão influentes e amplas, como o Islamismo, o Budismo, Hinduísmo, etc), e que os Beatles na época eram ouvidos por gente de toda fé...

Além disso, o fato de Lennon ter sido assassinado por um fã, não desmerece, nem diminui sua importância como compositor (de canções que pediam paz, solidariedade e amor ao próximo), músico (que introduziu instrumentos de outras culturas em sua formação, ampliando a possibilidade do pluralismo cultural) ou ser humano... Durante o vídeo, tenho a impressão de que o narrador vai tratando as pessoas citadas, como se fossem pecadores profanos e que o que lhes aconteceu parece ter sido “bem-feito”... O que não é dito, por exemplo, é que o assassino de Lennon era um psicótico, que ouvia vozes, e que em seu depoimento pra polícia chegou a dizer que: “parte de mim é o demônio”. (Será que nessa caso, de acordo com nosso narrador, Deus e o demo trabalham juntos¿¿¿ rsrsrs)

2 – Tancredo Neves teve uma das mortes mais polêmicas da História do Brasil... A versão oficial fala de uma doença no intestino (divecutulite), mas muitas são as controvérsias e versões que sugerem que ele tenha sido vitimado por um atentado, por causa de suas divergências, particularmente no Plano Econômico que se pretendia aplicar no país, após sua posse. Atribuir à fatalidade do “nem - presidente” a uma afirmação feita em relação aos processos políticos que estavam acontecendo, sem levar em consideração todo esse ambiente, as causas, os fatos da época, é realmente uma forma de brincar com a inteligência alheia...

3 – Cazuza foi acometido pelo Vírus HIV em 1990... Ele não pegou HIV fumando maconha... Não vou nem entrar em detalhes sobre a história do cantor, que qualquer um pode encontrar na NET também, mas acho importante salientar o preconceito implícito e explícito no texto narrado no vídeo, já que o uso da maconha é considerado algo sagrado em outras tradições religiosas, como os Rastafári. Além disso, se usarmos esse raciocínio de que a morte pela AIDS, que matou Cazuza, foi por causa do que ele disse, como ficam os milhares dos soropositivos (crianças que nascem com o vírus, inclusive), em relação ao fato de viver e morrerem assim¿ Seria também pelo que disseram em relação a Deus¿ Alguém já ficou livre do HIV por converte-se a alguma religião ou falar bem de Deus¿ (Santa paciência... Santo Saco....)

4 – Bon Scott morreu asfixiado pelo próprio vômito porque bebia e se drogava tanto que ficou num estado no qual vomitou inconsciente e, por não ter vazão pro vomito, acabou se asfixiando. Isso não aconteceu só com ele na época, e qualquer um que faça o mesmo, louvando seja lá quem for, corre esse risco...

5 – Quer dizer que Deus quem afundou o Titanic, só pra mostrar que o construtor estava errado¿ (Aaaaaaaaaaaaaaaaaaiii.....Meu saco!!!)

6 – Já ouviram a frase: “Se dirigir, não beba!!!”... Alguém quer uma explicação para isso¿ Quantos não são os acidentes com vítimas fatais que acontecem por ai, principalmente em regiões onde os meninos de Classe Média fazem tudo que querem, achando que não tem conseqüência ¿ Será que se eles tivessem deixado um espaço pro divino no carro, além de louvar e agradecer, beber até o cú fazer bico, e sair, não teria acontecido o acidente¿

Já fico imaginando a Polícia Técnica (aquela mesma da Formação Científica do outro texto), “encontrando a caixa de ovos no porta-malas intacto do carro que ficou irreconhecível...”

Pra que os ovos¿ Será que era pro tira-gosto¿

Hahahahahaha.... É rir pra não chorar... Será que realmente esperam que eu acredite nisso¿

Em relação ao conteúdo, não tenho mais o que escrever, mas gostaria de salientar mais umas observações a respeito da qualidade na montagem do vídeo:

1 – Narração: O Figura, que se auto-divulga logo no início, narra o vídeo com uma voz grave, num tom que conduz às pessoas a um estado emotivo. Em certo ponto, quando vai falar sobre o caso de Campinas, o tom fica ainda mais denso, como se o caso estivesse ali, acontecendo, até chegar ao ápice em que a voz fica firme (num estilo Cid Moreira) e diz: “Mas o porta-malas ficou intacto!”... e ele prossegue: “Lá estava uma bandeja com 18 ovos, sem nenhuma arranhão, e todos nos lugares corretos da bandeja” (uhúúúúúú...É vibrante), o cara é tão bom que consegue fazer de uma história dessas uma coisa que realmente toca no coração dos demais... (Galvão, aprenda com ele...rsrss).

2 – A trilha sonora: a música que vai rolando no fundo do vídeo também é algo de grande importância. Uma ópera (ou opereta, não consegui definir), com uma voz feminina, que remete a um clima de introspecção... Nesse caso é bacana perceber que ao montar o vídeo o autor também fez escolhas que conduzissem para um tipo de melancolia, que casada com a narração, vai dando aquela sensação de martírio...

Enfim... (que esse artigo já está quase um livro...) Durante muito tempo nessa vida, questionei sobre algumas supostas verdades difundidas e amplamente divulgadas por certas religiões. Depois, fui me dando conta de que quando o assunto é fé, não tem muito que se discutir, debater ou tentar comprovar... Acabei aprendendo que a idéia de Religião está ligada á própria origem da palavra, Re-ligare (religar-se, ligar-se em si mesmo), e que cada um tem a condição, e-ou a opção de escolher qual verdade melhor se encaixa pra que ocorra esse encontro. E nesse princípio, acabei por entender que a tolerância para com as crenças alheias é o melhor caminho, pra não se chegar a conflitos cegos!!!

Ainda assim, não posso deixar de me indignar quando percebo que tem gente que quer utilizar o medo, a chantagem e a manipulação para trazer para sua própria crença, aquilo que cada um pode fazer dentro de sua própria vida e opção.

A palavra Deus significa “Onipresente e Onipotente”. Fico me perguntando:

Por que um ser de tamanha magnitude seria tão vaidoso ao ponto de se ocupar se as pessoas estão lhe adorando, lhe seguindo, lhe obedecendo ou não¿

Mais ainda: “Se Deus é amor, e o princípio do amor é fazer o bem, de que serve toda essa adoração, essa rendeção, enquanto as pessoas continuarem a espalhar ódio pelo mundo afora¿ A salvação pessoal¿ Isso não é um tipo de egoísmo¿ O egoísmo não é um braço do desamor¿ E o medo cego não é um braço do ódio¿”

Enfim (definitivo...rsrsrs), sendo a internet esse espaço plural onde todos podem colocar aquilo que lhes convém, cabe sempre um tanto mais de bom senso e cuidado para com as verdades que nela são difundidas. E qualquer mensagem que apele pro medo cego das pessoas, precisa ser vista com cuidado... O medo é um dos caminhos mais certos para o desespero...Desesperado um ser humano pode fazer qualquer coisa que o outro queira...matar, morrer...e crer, cegamente!!!

Não brinque com minha inteligência, nem com a dos demais....

terça-feira, 11 de maio de 2010

Uma casa de Espelhos (o outro e o relacionamento)


Uma casa de espelhos... Gostei bastante dessa definição (Baila)... No fim das contas quase sempre é isso mesmo...
Estava falando sobre relacionamentos hoje...E certos assuntos parecem se atropelar como se fizessem parte do mesmo mundo (Será que é porque fazem ? ? ? ? rsrsrs)
Relacionar-se é lidar com os espelhos que criamos e saber que eles não são nem metade do que pensamos... Relacionar-se é perceber que a gente precisa um do outro, mas não é dono, nem deve se submeter ao outro, anulando-se, e que o outro é diferente de nós em tudo, por isso é chamado “outro” e não “eu”... (dentro de uma perspectiva Rasta, não existe essa ideia de outro, pois todos são “eu”, por estarem ligados diretamente à Jáh, o supremo, “que é o que é em si”... uma crença pertinente num tema como esse em que o reconhecimento do coletivo passa pelo indivíduo e vice-versa)
Escrevendo assim, identificar, conviver, aceitar e lidar com o outro fica até fácil...
Materializar essa idéia de relacionamento é que é mais complicado, até pros que tentam fazer uma ponte pensada, concreta e coerente entre aquilo que se diz e faz, aquilo que se pensa e pratica.
Tem uma dinâmica que utilizo para que os jovens com quem trabalho possam entender como funciona o trabalho do arqueólo:
Eu levo pra eles uma porção de objetos, estranhos ao seu cotidiano (artesanatos ou peças de culturas com as quais eu imagino que eles não tenham contato no seu dia-a-dia), peço-lhes que façam uma análise desse material, sugerindo um caminho que é: descrição (o mais detalhada, completa e neutra possível); o levantamento das hipóteses (O que acham que é o objeto, pra que serve, como foi feito, o que representa); por fim peço que os mesmo cruzem essas duas etapas, utilizando os elementos da descrição para a comprovação, reafirmando ou desconstruindo as opiniões dadas nas hipóteses.
Para que o procedimento fique um pouco mais claro, costumo fazer uma espécie de teatro para eles, encenando as etapas que um investigador/detetive deve ter para solucionar um caso (eles sempre citam um seriado chamado C.S.I., que eu nunca vi, mas parece interessante), enfim...
O Wagnão escreveu: “Nada é realmente o que aparenta ser”... Tai, concordo plenamente, ainda mais num mundo tão cheio de maquiagens e contradições...
O policial me viu correndo na rua, parou o carro e disse: “parado”...
Eu parei, e perguntei “qual era o caso ?”... Ele disse que era “por eu estar correndo”... Respondi: “É, estou atrasado”... Perguntou “para quê?”, e aquela ladainha toda... Enfim, no final, se desculpou dizendo que era procedimento por “atitude suspeita”...hahahaha... Quer dizer que num mundo em que tudo e todos correm, a polícia com sua formação “científica” acha que um negro de dread’s correndo é suspeito, e ainda justificam isso dizendo que é ciência ? ? ? (ouvi um capitão dizendo uma vez que não existe mais preconceito na Polícia, pois os soldados recebem formação “científica”)...
Polícias à parte (que a parte deles é sempre um tanto mais complicada), fico sempre pensando como é que a gente pode, de maneira prática, se relacionar com outro sem atropelar, nem ser atropelado...
De um modo bobo, descobri que há muitos caminhos para isso, e um deles tem há ver com o procedimento da atividade que expliquei antes: Se tentarmos ter contato com as pessoas, deixando que as sensações nos conduzam sem fazer julgamentos prévios, podemos acumular uma quantidade de impressões muito maiores e mais interessantes, do que se simplesmente nos deixarmos levar por uma primeira impressão...
O Homem é um ser naturalmente social, desde nosso nascimento até nossa maturidade... Até nossa solitude existe em relação aos demais...
Nossas antenas mais obvias (visão, audição, olfato, tato e paladar) já foram naturalmente potencializados pra conseguirmos ter muitas impressões de tudo à nossa volta e nos possibilitar relações uns com os outros, e com o mundo...
Se eu me permito olhar mais (as cores, as formas, os contornos, o movimento, o gestual), ouvir mais (o graves, os agudos, os suaves, os fortes, as melodias, os tons), tocar mais (sentindo as texturas, as temperaturas, as formas, o volume), sentir os cheiros (agradáveis, desagradáveis, repugnantes, atrativos) provar mais (o salgado, o doce, o amargo, o azedo, o picante, as combinações), possibilito a ampliação do meu contato comigo mesmo.
Se as pessoas aprendem a sentir, tem maior condição de ver no outro mais do que a si mesmo, vêem aquilo que o outro é, naquilo que o outro imprime, e não naquilo que foi criado por nós, por nosso próprio desejo prepotente (ainda que muitas vezes inconsciente)... Essa ampliação na relação com o outro, pode trazer algo que os Rastas já dizem, com base em sua crença há anos... Ao ver melhor o outro, posso ver melhor a mim mesmo, e assim, todos podem de algum modo ser “um só”...Eu e Eu, buscando Ponto de Equilíbrio!!!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Segunda de baseado, valores de sangue, pangéia e volta ao mundo!!!


Amanheceu... Segunda-feira, pós-dias das mães... (Por que nesse dia eu ainda não tenho certeza...O motivo que me contaram me faz pensar que não deveria ser uma data a ser levada em consideração...Mas a energia que paira no ar, traz algo diferente...)
A noite foi rápida... Dia de trabalho...
O ambiente é um misto de muitas coisas... A adolescência é uma fase de múltiplas faces... (fase e face são coisas que perpassam a adolescência, e me lembro que isso me incomodava um tanto, na minha juventude...)
Com o esquecimento de um material que eu tinha que usar, voltei até em casa... Encontrei um grupo desses moços e moças com quem trabalho e convivo, muitos dos quais há alguns anos, muitos dos quais ainda não consigo lembrar o nome... (Isso sempre me serve de indicativo pra entender que tem muita coisa errada...)
Sim...Eles não estavam estudando, embora estivessem em hora escolar... Estavam na rua, fumando um baseado, livremente...
O motivo¿ Pode-se imaginar muitos...
Libertar a mente, encontrar uma sintonia com algo maior ¿¿¿...(Seria uma boa explicação pra quem é devoto do rastafarianismo... E seria uma explicação que me deixaria até feliz, se o motivo fosse mesmo esse...Mas não é, posso afirmar)
O baseado que fumavam é baseado em uma realidade que pouco tem sintonia com as crenças sobre as propriedades da erva, sejam elas quais forem...
Alguns esconderam de mim aquilo que era óbvio...Outros, que já me conhecem das andanças pelo mundo, me cumprimentaram, demonstrando o afeto e o respeito que construímos no decorrer do tempo, apesar de algumas diferenças na forma de ver e pensar certas coisas...
Eu ¿ Correndo, na busca do material que eu havia esquecido, correspondi ao cumprimento, brinquei com um deles, e continuei minha caminhada...Não censurei, não reprimi, não apoiei, não incentivei...Apenas corri, como já estava fazendo...
De volta ao trabalho, o material que eu usei, também pra um grupo de adolescentes, era uma produção cinematográfica americana (um filme...rsrsrs)... O tema do mesmo estava relacionado com o que as pessoas são capazes de fazer pra conseguir viver em determinadas condições, e como a ação de certas pessoas podem intervir diretamente na vida de outras...
Enquanto esse grupo via o filme, estive com outras turmas, tratando de outros assuntos... Falava sobre a História do homem e do planeta... A origem de tudo... Citei que existem diferentes formas de pensar sobre o assunto, e que as mais comuns são o criacionismo e o evolucionismo... Tentei tratar do assunto de uma maneira não tendenciosa, e procurando mostrar como dentro dessa linhagem de fé (o criacionismo) podem existir muitas vertentes... (Fico sempre preocupado com o tipo de dogmatismo sectário e intolerante das pessoas que aceitam suas verdades como absolutas... Ignorando, menosprezando e querendo tratar como inferior as verdades alheias...)
Dada essa introdução, iniciei com eles uma viagem pela teoria da criação do mundo, as explosões da estrela que chamamos de Sol, a formação dos planetas, as comprovações dadas pelos cientistas para cada uma das fazes do processo que levou a formação do que conhecemos como planeta Terra, hj...Passando pela formação da Crosta-terrestre, a atmosfera, o resfriamento (glaciação), as 1º chuvas, a deriva dos continentes (A Pangéia), os primeiros seres unicelulares, e a formação das espécies, marítimas, anfíbias e terrestres, os herbívoros, onívoros e carnívoros, etc, etc, etc...
Eu viajei com eles no tempo, e percebi que muitos deles vieram comigo... Alguns indignados com as explicações da Ciência (que contradiz parte de suas crenças), outros, interessados naquele percurso que parece tão fascinante...
Enfim... Em meio a isso, depois disso, no decorrer disso, tratei de outros assuntos... Desde trocar ideias com um rapaz que derrubou uma parede de madeira com uma pesada, até um velho amigo sobre cervejas e os projetos de futuro...
Onde quero chegar com esse texto¿ Vou explicar...
Pensando nos meninos e meninas fumando seu baseado, nas coisas que as pessoas fazem pra viver em certas condições (passando por cima de tudo e de todos, muitas vezes), nos efeitos colaterais e nas imensa possibilidade de pensar e entender a vida humana, ainda que ínfima diante da grandiosa força da natureza, acredito que “na volta ao mundo”, sendo grande ou pequeno, todos nós precisamos aprender o jogo de olhar o outro, de sentir o outro...Mais que isso, de saber que o outro também é tanto quanto nós mesmos...
Parece óbvio, mas em meio aos valores e desejos avassaladores, do canto doce de sereias que destilam veneno, das correrias de um cotidiano quase insano, da falta de diálogo em espaços construídos pra reprimir, sinto que muitos de nós já não vemos além de uma imensa opacidade!!!

quinta-feira, 6 de maio de 2010