terça-feira, 11 de maio de 2010

Uma casa de Espelhos (o outro e o relacionamento)


Uma casa de espelhos... Gostei bastante dessa definição (Baila)... No fim das contas quase sempre é isso mesmo...
Estava falando sobre relacionamentos hoje...E certos assuntos parecem se atropelar como se fizessem parte do mesmo mundo (Será que é porque fazem ? ? ? ? rsrsrs)
Relacionar-se é lidar com os espelhos que criamos e saber que eles não são nem metade do que pensamos... Relacionar-se é perceber que a gente precisa um do outro, mas não é dono, nem deve se submeter ao outro, anulando-se, e que o outro é diferente de nós em tudo, por isso é chamado “outro” e não “eu”... (dentro de uma perspectiva Rasta, não existe essa ideia de outro, pois todos são “eu”, por estarem ligados diretamente à Jáh, o supremo, “que é o que é em si”... uma crença pertinente num tema como esse em que o reconhecimento do coletivo passa pelo indivíduo e vice-versa)
Escrevendo assim, identificar, conviver, aceitar e lidar com o outro fica até fácil...
Materializar essa idéia de relacionamento é que é mais complicado, até pros que tentam fazer uma ponte pensada, concreta e coerente entre aquilo que se diz e faz, aquilo que se pensa e pratica.
Tem uma dinâmica que utilizo para que os jovens com quem trabalho possam entender como funciona o trabalho do arqueólo:
Eu levo pra eles uma porção de objetos, estranhos ao seu cotidiano (artesanatos ou peças de culturas com as quais eu imagino que eles não tenham contato no seu dia-a-dia), peço-lhes que façam uma análise desse material, sugerindo um caminho que é: descrição (o mais detalhada, completa e neutra possível); o levantamento das hipóteses (O que acham que é o objeto, pra que serve, como foi feito, o que representa); por fim peço que os mesmo cruzem essas duas etapas, utilizando os elementos da descrição para a comprovação, reafirmando ou desconstruindo as opiniões dadas nas hipóteses.
Para que o procedimento fique um pouco mais claro, costumo fazer uma espécie de teatro para eles, encenando as etapas que um investigador/detetive deve ter para solucionar um caso (eles sempre citam um seriado chamado C.S.I., que eu nunca vi, mas parece interessante), enfim...
O Wagnão escreveu: “Nada é realmente o que aparenta ser”... Tai, concordo plenamente, ainda mais num mundo tão cheio de maquiagens e contradições...
O policial me viu correndo na rua, parou o carro e disse: “parado”...
Eu parei, e perguntei “qual era o caso ?”... Ele disse que era “por eu estar correndo”... Respondi: “É, estou atrasado”... Perguntou “para quê?”, e aquela ladainha toda... Enfim, no final, se desculpou dizendo que era procedimento por “atitude suspeita”...hahahaha... Quer dizer que num mundo em que tudo e todos correm, a polícia com sua formação “científica” acha que um negro de dread’s correndo é suspeito, e ainda justificam isso dizendo que é ciência ? ? ? (ouvi um capitão dizendo uma vez que não existe mais preconceito na Polícia, pois os soldados recebem formação “científica”)...
Polícias à parte (que a parte deles é sempre um tanto mais complicada), fico sempre pensando como é que a gente pode, de maneira prática, se relacionar com outro sem atropelar, nem ser atropelado...
De um modo bobo, descobri que há muitos caminhos para isso, e um deles tem há ver com o procedimento da atividade que expliquei antes: Se tentarmos ter contato com as pessoas, deixando que as sensações nos conduzam sem fazer julgamentos prévios, podemos acumular uma quantidade de impressões muito maiores e mais interessantes, do que se simplesmente nos deixarmos levar por uma primeira impressão...
O Homem é um ser naturalmente social, desde nosso nascimento até nossa maturidade... Até nossa solitude existe em relação aos demais...
Nossas antenas mais obvias (visão, audição, olfato, tato e paladar) já foram naturalmente potencializados pra conseguirmos ter muitas impressões de tudo à nossa volta e nos possibilitar relações uns com os outros, e com o mundo...
Se eu me permito olhar mais (as cores, as formas, os contornos, o movimento, o gestual), ouvir mais (o graves, os agudos, os suaves, os fortes, as melodias, os tons), tocar mais (sentindo as texturas, as temperaturas, as formas, o volume), sentir os cheiros (agradáveis, desagradáveis, repugnantes, atrativos) provar mais (o salgado, o doce, o amargo, o azedo, o picante, as combinações), possibilito a ampliação do meu contato comigo mesmo.
Se as pessoas aprendem a sentir, tem maior condição de ver no outro mais do que a si mesmo, vêem aquilo que o outro é, naquilo que o outro imprime, e não naquilo que foi criado por nós, por nosso próprio desejo prepotente (ainda que muitas vezes inconsciente)... Essa ampliação na relação com o outro, pode trazer algo que os Rastas já dizem, com base em sua crença há anos... Ao ver melhor o outro, posso ver melhor a mim mesmo, e assim, todos podem de algum modo ser “um só”...Eu e Eu, buscando Ponto de Equilíbrio!!!

4 comentários:

  1. Você já leu Maya? Do Gardner?
    O cara fala sempre de filosofia e pra esse escolhe uma corrente que acredita que o universo é brahman( o nome da cerveja deve vir daí), que todos somos brahman e que a individualidade não passa de uma impressão, a que se dá o nome de maya...

    Lembrei disso quando li sobre a perspectiva rasta.

    A gente pode pensar nos espelhos a partir daí: cada um só reconhece aquilo que conhece.

    Então eu leio sobre rasta e penso em Maya pq Maya já faz parte de mim, eu já conheço, já domino.Traçar um paralelo entre as duas coisas é um jeito que eu tenho me relacionar com o que vc disse.

    Como os seus jovens quando falam do CSI (que passa às 21h de segunda a sexta e às 24h da segunda na record).

    Como os meus alunos quando ouviram Cordel do Fogo Encantado e chamaram de macumba. Eles não conheciam o Cordel, o Candomblé, a Umbanda, o Jongo, o Samba-de-roda, o Coco, o Maracatu e mais a infinidade de músicas que usam tambor pelo Brasil e pelo mundo afora. Mas eles dominam o conceito de macumba (mesmo que ele seja questionável) e sabem que ela tem tambor, então olham pro tambor e vêem macumba.

    E então eu digo (antes que o comentário fique maior que o post) que olhar pro outro com mais atenção, não é simplesmente um jeito de conhecer melhor o outro. É um caminho para conhecer mais coisas, pra conhecer mais o mundo, pra conhecer mais você, e por consequência, conhecer melhor todos os outros.

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  2. Resumirei os meus pensamentos em uma pequeníssima frase: Magnífico este teu pensar, o outro que se aprofunda nesta visão global da vida, não precisará de muitas palavras e sim de atitudes conciliadoras do tão belo ato de viver.


    Parabéns!

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  3. Já li...
    Me agrada... só faria uma antitese... ou sintese complementar que é:
    Observar muito, ver e envolver... implica em conhecer! E o Ser humano só presta pra ser conhecido... quando é desconhecido!

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  4. Como sempre né prof... tu é o unico que me ajuda com algumas palavras .. alias alguns textos kkkk

    obg^^

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