sábado, 10 de dezembro de 2011

Dois pesos, duas medidas...

É impressionante a "falta de noção" que nossos meios de comunicação, a mídia, os poderes públicos e a própria população, possuem em relação à Cultura e as raízes de nosso próprio povo... Dia desses li sobre o falecimento do ex-jogador Sócrates, perda grande para as pessoas que admiram o futebol, em particular os corintianos... Em todos os sites de noticia estava exposta sua foto, biografias breves estavam estampadas nas principais páginas de jornais, na tv, nas rádios...Homenagens foram feitas... A mobilização dos meios de comunicação sempre é intensa quando falece uma "celebridade ou algo assim"... Quando morreu o Michael Jackson eu vi gente chorando sem sequer conhecer o mínimo do trabalho do cara, tomada pela comoção que se instalou na mídia... Quando o Senna morreu, parecia ser uma perda irreparável, embora as maiores partes das pessoas nunca tivessem entendido ou acompanhado com afinco a Fórmula 01...

Ontem, 09 de dezembro de 2011, as 14h, na Cidade de Salvador, na Bahia, faleceu João Pereira dos Santos, o Mestre João Pequeno, aos 93 anos de idade... Expoente da

Capoeira Angola, o mestre é um ícone da cultura baiana e brasileira... Seu legado é de um tamanho imensurável praqueles que conheceram seu trabalho, sua sabedoria, sua postura, seu coração, mudou a vida de pessoas no mundo inteiro, direta ou indiretamente... A Capoeira hoje é uma das expressões mais significativas na identidade brasileira... O berimbau e a ginga são marcas que identificam nossas raízes em qualquer lugar do mundo... A Capoeira é a maior responsável pela difusão da língua portuguesa pelo mundo... Ainda assim, como em tantos outros casos, fica cada vez mais evidente como é tratada a Cultura nesse país... Dois pesos, duas medidas... Olhem vocês mesmos, nas páginas dos principais sites de notícias, procurem uma só nota... Duas coisas me vêm na memória agora, uma é a frase da música da banda o Rappa, outra é uma colocação feita pelo também grande Mestre Curió... Deixo as duas, pra fechar essa breve reflexão:

"Que para o negro, mesmo a AIDS possue hierarquia, pois

Na África a doença corre solta e a impressa mundial

Dispensa poucas linhas, comparado ao que faz com

Qualquer figurinha do cinema ou das colunas sociais...

Todo Camburão tem um pouco de Navio Negreiro..."

(Marcelo Yuca)

"O capoeirista da muita glória à cultura, a Bahia, ao Brasil e

Mundo, e é esquecido...

A Capoeira tem muito pra mostrar pro Brasil,

mas o Brasil não tem nada pra mostrar pra Capoeira" (Mestre Curió)

terça-feira, 10 de maio de 2011

13 de maio e a Ilusão que atravessa os tempos

Durante muitos anos no Brasil, o dia 13 de maio foi comemorado como um dia que representava a Libertação dos Escravos, por conta da Lei Aurea, assinada pela Princesa Isabel no ano de 1888.

Hoje, no entanto, refletindo sobre o significado real de tal ação, sobre os resultados reais da chamada abolição e sobre as condições que ficaram os descendentes desses africanos que vieram forçados para o Brasil, nossa atitude perante a essa data e essa ideia de comemoração é outra.

Poucos sabem o verdadeiro motivo pelo qual a Princesa Isabel assinou a lei, mas o fato é que sua ação, que foi vista como “boazinha” durante anos, foi muito mais um ato estratégico pra não perder o controle do que uma caridade. Haviam pressões duras da Inglaterra pra que o Brasil abolisse a escravidão (era o único país na América que ainda não tinha feito isso), e haviam revoltas de mulheres e homens escravizados por toda parte do país, apoiados por muitos abolicionistas, e gerando nas próprias fazendas dos escravagistas, grande insegurança...

A “Dona Izabel” não fez outra coisa, se não confirmar aquilo que já estava praticamente inevitável...

Pra além disso, a Abolição feita pela lei Aurea ainda deixou muitas coisas “mal resolvidas” na história desse país:

A primeira foi o fato de terem “liberado” a gente escravizada de sua condição de cativo, mas não terem dado nenhum tipo de compensação, reparação, indenização pelos sequestros, o uso de sua força de trabalho por mais de 300 anos (o que produziu a riqueza de muitos fazendeiros e seus herdeiros, até hoje) e a violência contra seus corpos, sua moral, sua cultura, sua dignidade humana. A Lei dizia apenas que estavam “libertos os escravos”, o que fez com que muitos fossem simplesmente colocados pra fora das fazendas ou casas onde “viviam” e obrigados a se submeter a situações em alguns casos tão dramáticas quanto no tempo de cativeiro, ou seja, livres, mas sem nada, mal saíram com a roupa do corpo em busca de um canto, sem recursos, nem apoio.

O segundo ponto é um desdobramento direto do primeiro:

Com a Abolição feita dessa maneira, o Brasil se manteve um país extremamente desigual, sob um manto mentiroso e ilusório de que após a lei, todos eram iguais. A igualdade proclamada nunca aconteceu... Os descendentes dos escravizados foram, em sua grande maioria, as mulheres e homens que mais sofreram as mazelas sociais do país, abandonados, e muitas vezes alvos de tentativas de extermínio cultural e social. Os negros/pretos e seus descendentes foram vistos e tratados como inferiores, menosprezados e durante os séculos pós-escravidão continuaram herdeiros das marcas do sistema escravista. Por vezes ainda se ouve as pessoas falarem: “Serviço de preto, cabelo ruim, macumba do diabo”, entre tantas expressões que só reforçam a mentalidade herdada. Muitos dizem que o preconceito não existe, mas esses são os mesmos que não aceitam relações com pessoas de origem preta, não veem seus filhos casados com pretos, não se imaginam sendo orientados ou mandados por patrões pretos, e quando isso acontece, logo mencionam a etnia dos sujeitos como primeiro ítem de discordância, naquelas máximas comuns: “Esse preto tá achando o quê? Qual que é desse negão? Macaco, Filhote de Urubú”...

O terceiro ponto envolve um grupo de pessoas que já não estão identificados pela etnia ou pela origem, e trata-se do trabalho escravo que ainda existe nos dias de hoje:

Apesar de a lei brasileira, proclamada pela Princesa Izabel, afirmar desde 1888 que não era mais permitido ter escravos, ou manter alguém trabalhando em regime de escravidão, a realidade brasileira é muito distinta disso. Em vários lugares, seja no centro de São Paulo, onde imigrantes ilegais são cativos de um sistema escravista que os coloca pra trabalhar mais de 14 horas por dia, presos às máquinas de costuras que sustentam os exploradores, até no interior de estados do Norte (Pará, Amazônia) e Nordeste (maranhão, Piauí, Ceará), ou nas biqueiras de qualquer cidade onde meninos tornam-se dependentes de certas drogas, e viram mão de obra escrava, com julgamentos mortais, nas mãos de traficantes. O sistema escravista continua existindo, e vitima diariamente, milhares de pessoas, oprimidas e escondidas pela ilusão de que a lei da princesa resolveu o problema!!

Nesse dia 13, nesse mês de maio, nesse ano que estamos, e nos demais que virão, vamos afirmar diariamente que não nos iludimos, que não aceitaremos tentarem nos ludibriar com as memórias enganosas construídas por quem sempre dominou e oprimiu os demais... Sabemos quem são nossas verdadeiras referências... A Capoeira é um fruto direto da luta do próprio povo para libertar a si, individual e coletivamente. Essa é a história que vivemos e que lembraremos sempre!!!

A Liberdade não se ganha de presente, a liberdade se conquista lutando!!

Por Alan Amaro

(Capoeirista, músico e professor de História)

quinta-feira, 10 de março de 2011

Os Velhos Mimados


O tempo passa, o mundo muda, caem os muros, caem as máscaras dos “puros”, dá-se alguns murros, e apesar de tudo isso, ainda reinam os “burros”...

Com todo o perdão do palavreado poético, hoje fiquei preocupado... e nem é assunto novo ou não comentado... O fato é que ao ver o pranto, o coração amargurado, a tristeza exposta, me vi tocado...

A História é simples: “Rejeição Familiar!!”

Rejeição, de fato???... Não, não... São raros os casos em que o amor construído num laço familiar se desfaz na forma violenta da rejeição...

Muito mais do que a rejeição de fato, o que tenho presenciado como parte da cultura dos conflitos de gerações é “a Fantasia da Rejeição”, o desgosto da discordância transformar-se em chantagem emocional e daí descambar para a negação do amor como forma de diálogo... A história do: “Se vc vai fazer isso, então eu não te amo mais!” ou “não sou mais seu pai”, “Vc não é mais minha filha”... Essas coisas...

Ainda que o mundo mude, certas coisas, quando não são muito violentadas se mantém... Umas delas é o amor entre pais e filhos...

Na adolescência, a dificuldade de dialogar entre essas duas categorias de gente (Adultos e adolescentes), faz brotar essa “chantagem emocional” com essa “fantasia de rejeição” (que pode até tornar-se rejeição, de fato)...

Os motivos são vários... Mas comumente o que se vê é que quando os adolescentes começam a romper o cerco do controle e desenvolver sua própria personalidade, com seus próprios gostos pelas coisas e suas próprias escolhas na vida, os adultos ficam perdidos... Em partes porque percebem que as crianças se foram, que dali pra diante acaba-se aquela coisa de poder fazer com a cria tudo o que se deseja, como se a mesma fosse um bonequinho. Eles não vão mais ouvir a mesma música, ou colocar a roupa que o adulto ache mais bonita ou adequada, não vão mais repetir os trejeitos, nem torcer pro mesmo time (embora a maioria não mude... rsrsrs), não vão mais concordar cegamente.

Por outro lado, a nova condição daquela criatura (Adolescente) requer um tipo de relação diferente, que dialogue, que estabeleça limites, mas de um outro jeito, ouvindo, procurando entender os motivos, conversando, de maneira que se possam chegar em certos acordos, consensuais ou não, mas acordados e estabelecidos, negociados, numa relação que prime pelo respeito à ambos.

O que parece bem simples na teoria vira um inferno pra muitos na prática... Nos casos mais radicais começam a surgir grosserias tão grandes que acarretam em tragédias.

Embora existam os casos de omissão, total cegueira da parte de alguns adultos que se veem sem controle e acabem não cumprindo com sua parte na função de continuar a educar, o que quero tratar aqui é do outro extremo.

Aqueles que são fiéis aos “costumes morais” e aos seus “tradicionais valores imutáveis”... Gente que não consegue ouvir falar em Sexualidade, em igualdade de gênero, em direitos humanos, em direitos para homossexuais, em liberdade de crença, etc... Essa gente hipócrita que ainda se esconde por trás de uma carapaça de “gente de bem”, “os puros”, “os fiéis à moral” e que continuam a reproduzir todo o tipo de preconceito, machismo, sexismo, homofobia, racismo e crendo no autoritarismo e na violência dos “supostos fortes” como forma de garantir o controle e manter a ordem...

Infelizmente essa gente está ai, muitos são adultos, com suas crianças tornando-se adolescentes, e que, pela própria “cegueira” de seus valores imutáveis, geram todo tipo de conflito desnecessário e tão difícil para os jovens e para eles mesmos... Como não sabem dialogar, apelam pra chantagem emocional, e fazem um jogo cruel com coração dos moços e moças mais vulneráveis...

O fato é que muitos adultos são mais crianças que os próprios adolescentes... Quando veem que suas crianças viram jovens, perdem o brinquedo e ficam emburradas... Passam a fazer mimo como forma de tentar ter de volta o controle que tinham sobre o “boneco”, e fodem com o sentimento de todos... Se escondem nessa pinta de gente de bem, e ai a coisa vai ficando cada vez mais feia...

O poeta e músico Renato Russo, numa de suas belas canções disse sobre os adultos: “Você culpa seus pais por tudo, e isso é um absurdo... São crianças como você, o que você vai ser quando você crescer...”

Grande sacada essa do Renato... Tô pra dizer que em muitos casos que vejo hoje, o adulto da relação é o adolescente, enquanto a criança mimada são justamente os mais velhos, adultos, pais, avós, professores, etc...

Quem dera se pudessem entender a outra frase do poeta:

“É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade não há!!!”

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Malandragem???

Recentemente vivi algumas situações e alguns diálogos que me fizeram refletir sobre o significado da “malandragem”... Do conceito, da ação, das consequências.
Desde o início do Século XX o termo “malandro” tem sido usado pra designar certos grupos de homens, particularmente no Brasil (embora sua origem remeta-nos a Idade Média na Europa). O malandro, de maneira resumida e talvez até simplista, é “o figura” que transgrede as regras e leis, desobediente, quer levar a vantagem, utilizando artimanhas, soluções criativas e não convencionais, para poder se dar bem ou sair de alguma situação na qual esteja se dando mal... Visto dessa forma, a malandragem pode parecer algo ruim para a sociedade, já que é um ato absolutamente individual, e que passa por cima dos demais...
Por outro lado, numa sociedade opressora e excludente, a malandragem se apresenta consciente e/ou inconscientemente, como uma forma de resistir, preservar e defender a integridade de valores absolutamente justos, como a dignidade, o amor próprio, a liberdade, entre outros.
Ser malandro não é pra qualquer um... A malandragem requer o aprendizado corajoso e perigoso de saber enganar, de saber iludir, de “saber fazer que vai sem ir”... Os malandros, muitas vezes, precisam aprender certos códigos, entender certas linguagens que vão pra muito além de uma gíria, um jeito de se mexer o corpo ou de se vestir.
Ouve tempos em que a malandragem era temida, era vista como ação de gente ruim, perseguida por muitos, e repassada por baixo dos panos... Posteriormente, os malandros começaram a ficar famosos, por suas ações, suas histórias fantásticas, preenchendo o imaginário popular de curiosidade e romantismo sobre essa inusitada figura. A literatura foi grande responsável por essa difusão, ao lado do samba, que se tornou um símbolo da identidade desse país.
Mais recentemente, a difusão do conceito de malandro vem sendo feita através de movimentos culturais jovens, populares, como o Hip Hop, o funk Carioca, além do samba/pagode onde sempre esteve presente, entre outros.
Como tudo numa sociedade de consumo, a malandragem hoje também já faz parte de um nicho do mercado de compra e venda. Muita gente consome, por influência da música, das propagandas, das festas onde aparecem esses “artistas difusores da imagem”, dos grupos de amigos... A malandragem consumível, um estereótipo esvaziado de sentido... Roupas, acessórios, gestos, gírias, expressões, comportamentos que são marcas características da malandragem, mas que são apenas a ‘casca’.
É claro que uma contradição inerente se faz presente ai: A malandragem, como forma de sobrevivência ilícita, como característica específica de uma forma de viver contra os padrões sociais e convencionais, tem sido incorporada nessa mesma sociedade, através de processos de mercado onde tudo vira mercadoria.
Mas é uma contradição que só existe quando não se vê a fundo o verdadeiro motivo da incorporação e da cooptação da própria noção de malandragem, esvaziada do seu sentido mais básico, que é o de “se sair do controle da sociedade e fazer sua própria regra”.
A malandragem que tem sido difundida e amplamente reproduzida, principalmente entre as camadas sociais mais excluídas, não é mais aquela na qual o malandro passava despercebido, ganhando notoriedade por sua capacidade de sair do controle de maneira elegante, sem alvoroço, sem presepada. Hoje, os que se acham malandros, exibem suas ações como se fossem medalhas, falam e divulgam cada passo que dão, tornam-se facilmente manipulados por figurões que, na malandragem real ou por já fazerem parte do jogo do mercado maior, se aproveitam da inocência dos primeiros.
Ai vem a parte que realmente começa a me preocupar quando vejo essa suposta malandragem desfilar nas ruas. Meninos se gabando por fazerem parte do crime, por já terem sido presos, por usarem certos produtos ilícitos, por comerem a mulher do vizinho vacilão, etc, etc, etc. Difundem toda uma parafernália de ideias que são, de um modo sútil ou escancarado, exatamente aquilo que o sistema convencional espera. São punidos, pra garantir que se mantenham num “limite controlável”, mas não são orientados para mudarem ou perceberem sua verdadeira condição... No fim das contas, são o resultado da vacilagem em pessoa. Alguns se dão conta depois de certas vivências e algum tempo, outros não tem nem mesmo essa oportunidade.
Gente estufando o peito, botando banca, falando alto, intimidando... São corajosos quando percebem que podem ganhar pela força, mas tremem na base quando se veem diante de um embate na qual realmente seja necessária à malandragem pra “se sair”. Não passam de ingênuos papagaios...
Mas a malandragem real ainda existe... Nas manhas e mandingas de muita gente que não tem necessidade de fazer propaganda desses saberes (e isso já é uma das demonstrações dessa malandragem), gente que aprendeu a brincar no meio da guerra, que aprendeu a chorar no meio do riso, que aprendeu a tirar leite de pedra, que afronta a autoridade do jeito mais sabido, tirando onda quando todo mundo tá descabelando, e solucionando situações que se demonstram impossíveis... O malandro não é um herói, nem um vilão... é um mago, um bruxo, é o mistério...
E é isso, malandro... tá dado o recado!!!
P.S: “Eu sei que você vai ler esse texto... E sei que você sabe por que escrevi... Sei também que não vai entender, ou vai se fechar pra certas ideias que estão aqui... E mais, que vai arrumar todo tipo de argumento preconceituoso, pra tentar justificar pra você mesmo o quanto essas palavras aqui escritas “não tem nada há ver”!!!
Tudo bem, malandro... Você é o sabedor...Eu sou só um vacilão escrevendo num blog...”

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

de volta à ativa!!

O ano de 2011 começou, e as atividades estão pra recomeçar... Como parte das minhas propostas pra esse ano, pretendo manter esse Blog um tanto mais ativo, com as mesmas reflexões, propostas, divulgações, etc.
Pra iniciar, vou retomar algumas produções do ano passado, como forma de deixar registrado aqui... Afinal "recordar é viver"!!! rsrsrsrs





quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Versão Alan Zas (Razallfaya)

Bater devagar e doer...

As vezes é preciso bater um pouco mais devagar, pra não doer tanto, mas “se tem que bater, então que assim seja”!!!