quinta-feira, 10 de março de 2011

Os Velhos Mimados


O tempo passa, o mundo muda, caem os muros, caem as máscaras dos “puros”, dá-se alguns murros, e apesar de tudo isso, ainda reinam os “burros”...

Com todo o perdão do palavreado poético, hoje fiquei preocupado... e nem é assunto novo ou não comentado... O fato é que ao ver o pranto, o coração amargurado, a tristeza exposta, me vi tocado...

A História é simples: “Rejeição Familiar!!”

Rejeição, de fato???... Não, não... São raros os casos em que o amor construído num laço familiar se desfaz na forma violenta da rejeição...

Muito mais do que a rejeição de fato, o que tenho presenciado como parte da cultura dos conflitos de gerações é “a Fantasia da Rejeição”, o desgosto da discordância transformar-se em chantagem emocional e daí descambar para a negação do amor como forma de diálogo... A história do: “Se vc vai fazer isso, então eu não te amo mais!” ou “não sou mais seu pai”, “Vc não é mais minha filha”... Essas coisas...

Ainda que o mundo mude, certas coisas, quando não são muito violentadas se mantém... Umas delas é o amor entre pais e filhos...

Na adolescência, a dificuldade de dialogar entre essas duas categorias de gente (Adultos e adolescentes), faz brotar essa “chantagem emocional” com essa “fantasia de rejeição” (que pode até tornar-se rejeição, de fato)...

Os motivos são vários... Mas comumente o que se vê é que quando os adolescentes começam a romper o cerco do controle e desenvolver sua própria personalidade, com seus próprios gostos pelas coisas e suas próprias escolhas na vida, os adultos ficam perdidos... Em partes porque percebem que as crianças se foram, que dali pra diante acaba-se aquela coisa de poder fazer com a cria tudo o que se deseja, como se a mesma fosse um bonequinho. Eles não vão mais ouvir a mesma música, ou colocar a roupa que o adulto ache mais bonita ou adequada, não vão mais repetir os trejeitos, nem torcer pro mesmo time (embora a maioria não mude... rsrsrs), não vão mais concordar cegamente.

Por outro lado, a nova condição daquela criatura (Adolescente) requer um tipo de relação diferente, que dialogue, que estabeleça limites, mas de um outro jeito, ouvindo, procurando entender os motivos, conversando, de maneira que se possam chegar em certos acordos, consensuais ou não, mas acordados e estabelecidos, negociados, numa relação que prime pelo respeito à ambos.

O que parece bem simples na teoria vira um inferno pra muitos na prática... Nos casos mais radicais começam a surgir grosserias tão grandes que acarretam em tragédias.

Embora existam os casos de omissão, total cegueira da parte de alguns adultos que se veem sem controle e acabem não cumprindo com sua parte na função de continuar a educar, o que quero tratar aqui é do outro extremo.

Aqueles que são fiéis aos “costumes morais” e aos seus “tradicionais valores imutáveis”... Gente que não consegue ouvir falar em Sexualidade, em igualdade de gênero, em direitos humanos, em direitos para homossexuais, em liberdade de crença, etc... Essa gente hipócrita que ainda se esconde por trás de uma carapaça de “gente de bem”, “os puros”, “os fiéis à moral” e que continuam a reproduzir todo o tipo de preconceito, machismo, sexismo, homofobia, racismo e crendo no autoritarismo e na violência dos “supostos fortes” como forma de garantir o controle e manter a ordem...

Infelizmente essa gente está ai, muitos são adultos, com suas crianças tornando-se adolescentes, e que, pela própria “cegueira” de seus valores imutáveis, geram todo tipo de conflito desnecessário e tão difícil para os jovens e para eles mesmos... Como não sabem dialogar, apelam pra chantagem emocional, e fazem um jogo cruel com coração dos moços e moças mais vulneráveis...

O fato é que muitos adultos são mais crianças que os próprios adolescentes... Quando veem que suas crianças viram jovens, perdem o brinquedo e ficam emburradas... Passam a fazer mimo como forma de tentar ter de volta o controle que tinham sobre o “boneco”, e fodem com o sentimento de todos... Se escondem nessa pinta de gente de bem, e ai a coisa vai ficando cada vez mais feia...

O poeta e músico Renato Russo, numa de suas belas canções disse sobre os adultos: “Você culpa seus pais por tudo, e isso é um absurdo... São crianças como você, o que você vai ser quando você crescer...”

Grande sacada essa do Renato... Tô pra dizer que em muitos casos que vejo hoje, o adulto da relação é o adolescente, enquanto a criança mimada são justamente os mais velhos, adultos, pais, avós, professores, etc...

Quem dera se pudessem entender a outra frase do poeta:

“É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade não há!!!”