terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Malandragem???

Recentemente vivi algumas situações e alguns diálogos que me fizeram refletir sobre o significado da “malandragem”... Do conceito, da ação, das consequências.
Desde o início do Século XX o termo “malandro” tem sido usado pra designar certos grupos de homens, particularmente no Brasil (embora sua origem remeta-nos a Idade Média na Europa). O malandro, de maneira resumida e talvez até simplista, é “o figura” que transgrede as regras e leis, desobediente, quer levar a vantagem, utilizando artimanhas, soluções criativas e não convencionais, para poder se dar bem ou sair de alguma situação na qual esteja se dando mal... Visto dessa forma, a malandragem pode parecer algo ruim para a sociedade, já que é um ato absolutamente individual, e que passa por cima dos demais...
Por outro lado, numa sociedade opressora e excludente, a malandragem se apresenta consciente e/ou inconscientemente, como uma forma de resistir, preservar e defender a integridade de valores absolutamente justos, como a dignidade, o amor próprio, a liberdade, entre outros.
Ser malandro não é pra qualquer um... A malandragem requer o aprendizado corajoso e perigoso de saber enganar, de saber iludir, de “saber fazer que vai sem ir”... Os malandros, muitas vezes, precisam aprender certos códigos, entender certas linguagens que vão pra muito além de uma gíria, um jeito de se mexer o corpo ou de se vestir.
Ouve tempos em que a malandragem era temida, era vista como ação de gente ruim, perseguida por muitos, e repassada por baixo dos panos... Posteriormente, os malandros começaram a ficar famosos, por suas ações, suas histórias fantásticas, preenchendo o imaginário popular de curiosidade e romantismo sobre essa inusitada figura. A literatura foi grande responsável por essa difusão, ao lado do samba, que se tornou um símbolo da identidade desse país.
Mais recentemente, a difusão do conceito de malandro vem sendo feita através de movimentos culturais jovens, populares, como o Hip Hop, o funk Carioca, além do samba/pagode onde sempre esteve presente, entre outros.
Como tudo numa sociedade de consumo, a malandragem hoje também já faz parte de um nicho do mercado de compra e venda. Muita gente consome, por influência da música, das propagandas, das festas onde aparecem esses “artistas difusores da imagem”, dos grupos de amigos... A malandragem consumível, um estereótipo esvaziado de sentido... Roupas, acessórios, gestos, gírias, expressões, comportamentos que são marcas características da malandragem, mas que são apenas a ‘casca’.
É claro que uma contradição inerente se faz presente ai: A malandragem, como forma de sobrevivência ilícita, como característica específica de uma forma de viver contra os padrões sociais e convencionais, tem sido incorporada nessa mesma sociedade, através de processos de mercado onde tudo vira mercadoria.
Mas é uma contradição que só existe quando não se vê a fundo o verdadeiro motivo da incorporação e da cooptação da própria noção de malandragem, esvaziada do seu sentido mais básico, que é o de “se sair do controle da sociedade e fazer sua própria regra”.
A malandragem que tem sido difundida e amplamente reproduzida, principalmente entre as camadas sociais mais excluídas, não é mais aquela na qual o malandro passava despercebido, ganhando notoriedade por sua capacidade de sair do controle de maneira elegante, sem alvoroço, sem presepada. Hoje, os que se acham malandros, exibem suas ações como se fossem medalhas, falam e divulgam cada passo que dão, tornam-se facilmente manipulados por figurões que, na malandragem real ou por já fazerem parte do jogo do mercado maior, se aproveitam da inocência dos primeiros.
Ai vem a parte que realmente começa a me preocupar quando vejo essa suposta malandragem desfilar nas ruas. Meninos se gabando por fazerem parte do crime, por já terem sido presos, por usarem certos produtos ilícitos, por comerem a mulher do vizinho vacilão, etc, etc, etc. Difundem toda uma parafernália de ideias que são, de um modo sútil ou escancarado, exatamente aquilo que o sistema convencional espera. São punidos, pra garantir que se mantenham num “limite controlável”, mas não são orientados para mudarem ou perceberem sua verdadeira condição... No fim das contas, são o resultado da vacilagem em pessoa. Alguns se dão conta depois de certas vivências e algum tempo, outros não tem nem mesmo essa oportunidade.
Gente estufando o peito, botando banca, falando alto, intimidando... São corajosos quando percebem que podem ganhar pela força, mas tremem na base quando se veem diante de um embate na qual realmente seja necessária à malandragem pra “se sair”. Não passam de ingênuos papagaios...
Mas a malandragem real ainda existe... Nas manhas e mandingas de muita gente que não tem necessidade de fazer propaganda desses saberes (e isso já é uma das demonstrações dessa malandragem), gente que aprendeu a brincar no meio da guerra, que aprendeu a chorar no meio do riso, que aprendeu a tirar leite de pedra, que afronta a autoridade do jeito mais sabido, tirando onda quando todo mundo tá descabelando, e solucionando situações que se demonstram impossíveis... O malandro não é um herói, nem um vilão... é um mago, um bruxo, é o mistério...
E é isso, malandro... tá dado o recado!!!
P.S: “Eu sei que você vai ler esse texto... E sei que você sabe por que escrevi... Sei também que não vai entender, ou vai se fechar pra certas ideias que estão aqui... E mais, que vai arrumar todo tipo de argumento preconceituoso, pra tentar justificar pra você mesmo o quanto essas palavras aqui escritas “não tem nada há ver”!!!
Tudo bem, malandro... Você é o sabedor...Eu sou só um vacilão escrevendo num blog...”

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

de volta à ativa!!

O ano de 2011 começou, e as atividades estão pra recomeçar... Como parte das minhas propostas pra esse ano, pretendo manter esse Blog um tanto mais ativo, com as mesmas reflexões, propostas, divulgações, etc.
Pra iniciar, vou retomar algumas produções do ano passado, como forma de deixar registrado aqui... Afinal "recordar é viver"!!! rsrsrsrs